A trajetória histórica de Calebe e seu legado na Palavra de Deus

                       A HISTORIA DE CALEB







 Calebe sabia o que era escravidão. Esteve presente quando o Senhor levou Seu povo para fora do Egito com mão poderosa. Ele viu o mar se abrir diante de Israel e tragar as carruagens e o exército egípcios. Esteve com Israel no Monte Sinai e viu Moisés descer da montanha com a lei de Deus. Foi um dos primeiros a ver a terra de Canaã. Embora não tivesse culpa nenhuma, teve que passar seus melhores anos vagando pelo deserto com os israelitas. Ele também viu toda a sua geração morrer ali. Finalmente, já idoso, pôde entrar na terra de Canaã. Mesmo assim, mostrou coragem e fé em Deus.

Calebe foi um líder que parece haver trabalhado mais por trás das cenas que diante do público. 
Agora, vamos aprender de seu estilo de liderança suave. Vamos chegar a conhecer um grande líder disposto a correr riscos e liderar pelo exemplo; alguém que foi generoso e encorajou liderança aos mais jovens. Mas, além das muitas características positivas de Calebe, vamos estudar uma história relevante para nós, que vivemos no fim da história terrestre e esperamos fazer a travessia para a Canaã celestial.


  “Os fatos”



Cerca de quinze meses antes, Israel havia deixado o Egito. As tendas pontilhavam o deserto de Parã, perto da fronteira de Canaã. Todos estavam curiosos para saber algo sobre a terra que logo seria seu lar. Sob a direção de Deus, doze exploradores foram escolhidos. Calebe deveria representar Judá como um dos doze que realizariam um reconhecimento de Canaã. Os espias passaram quarenta dias explorando a terra e, finalmente, voltaram e se prepararam para dar seu relatório.

Os espias trouxeram consigo algo que pudesse ser visto, cheirado e saboreado. Embora todos os doze espias tivessem estado expostos aos mesmos fatos, eles chegaram a conclusões muito diferentes.
Dez deles interpretaram como se a terra fértil e as grandes cidades significassem que eles estavam condenados, que não havia maneira de esses ex-escravos errantes tomarem a terra. Convenientemente, eles esqueceram que não teriam conseguido chegar à fronteira da Terra Prometida se não fosse pelos milagres das pragas do Egito, a travessia do Mar Vermelho, a água jorrando de uma pedra e o maná diário que eles haviam recebido por mais de um ano. Deus havia feito todas essas coisas por eles, e agora, por alguma razão, eles deixaram de confiar nEle e em Suas promessas, andando pelo que viam em vez de confiar nas promessas de Deus. Como é fácil para todos nós fazermos a mesma coisa!
Aquilo que vemos e a interpretação que damos ao que vemos, pode ter consequências pessoais muito diretas. Nossas interpretações dos “fatos” formam os “tijolos” de nossas decisões diárias, e esses “fatos” interagem frequentemente com nossas emoções. É um mito a ideia de que podemos crer em qualquer coisa de que gostamos sem que essas convicções afetem quem somos e o que fazemos.


Enfrentar os “fatos” sem a Palavra de Deus resultará em interpretações que nos levem para longe de Deus e em direção à incredulidade. Enfrentar os fatos com Deus nos dará a evidência que ajudará a confiar e a fortalecer nossa fé nEle.



Permanecendo em pé quando necessário



Nem sempre é fácil ser diferente e opor-se ao grupo. A pressão do grupo é uma força tremenda. O poder de milhares de torcedores em um estádio impõe uma energia tremendamente intimidadora para o time visitante. Não seria inteligente gritar em favor de um time nem agitar sua bandeira em meio à torcida adversária. É por isso que os torcedores de times adversários, como no futebol, frequentemente são mantidos separados durante os jogos. Quando eles se encontram, a razão desaparece e, frequentemente, o resultado é a violência.

Para os israelitas, entretanto, não se tratava de um jogo. Seu futuro e sua sobrevivência pareciam estar ameaçados, e todos eles choraram. E testemunhar milhares de pessoas chorando ao mesmo tempo deve ter sido muito comovente. E aqui Calebe, que normalmente parecia estar nos bastidores, assumiu a frente.
A mesma informação pode ser transmitida de muitas formas. A maneira de dizermos algo é tão importante quanto aquilo que dizemos. Calebe mostrou caráter muito forte quando não discutiu nem insultou em público os dez espias incrédulos e não censurou o povo por sua falta de fé. Em vez disso, Calebe falou com ousadia e pediu confiança e ação. Porém, o povo não quis ouvir isso. A decisão já havia sido tomada, e eles tentaram apedrejar Moisés, Josué e Calebe.
Calebe deve ter ficado amargamente desapontado. Ele havia visto a boa terra. Ele fora fiel e estava pronto para entrar. Mas, agora, ele devia vagar no deserto por quarenta anos por causa da culpa de todos os demais. Mas Calebe tinha um forte senso de comunidade e percebia o que significava ser parte de um todo. Ele liderou pelo exemplo e encorajou o povo. Calebe não se afastou nem começou um novo movimento. A disposição de simplesmente sair quando surgem as dificuldades ou falta de fé pode ser um fenômeno atual, mas não é bíblica. Em Calebe, vemos um homem que permaneceu, mesmo durante os anos de castigo, sem demonstrar o espírito de “eu já disse”.



Reivindicando as promessas de Deus



Quarenta anos haviam passado. Os israelitas atravessaram o Jordão para alcançar a Terra Prometida. Como pessoas famintas que encaram uma mesa posta com boa comida, eles olhavam em direção à Terra Prometida. As discussões junto às fogueiras do acampamento se concentravam em quais eram as melhores partes da terra e quem ia obtê-las. Muito antes de entrar na Terra Prometida, Moisés já havia reconhecido o potencial de conflitos e havia deixado orientações para a divisão da terra. Isso é relatado em Josué 14.

Em meio ao processo de dividir a terra, Calebe se aproximou e, surpreendentemente, pediu terra. Isto é, não terra para sua tribo, mas para ele mesmo. À primeira vista, esse encontro entre Josué e Calebe, os dois homens mais idosos de Israel, parece um pouco egoísta. Embora Calebe insistisse que era forte e estava pronto para a batalha, antes, ele queria reivindicar uma promessa que Deus lhe fizera.
Obviamente, Calebe não tinha medo de reivindicar as promessas de Deus. O pedido de Calebe não foi motivado por ambição egoísta. O princípio de “buscar para dar” estava profundamente enraizado no caráter do ancião. Calebe não exigiu para si as melhores terras, as mais produtivas; ao contrário, ele escolheu a área habitada pelos gigantes filhos de Anaque. Isto é, a terra que ele pediu para si ainda não estava conquistada. Tinham sido esses mesmos gigantes que haviam deixado os israelitas tão temerosos quarenta anos antes (Nm 13:33).
Calebe, talvez, pretendesse certificar-se de que aquela geração não cometesse os mesmos erros de seus antepassados. Nessa situação, Calebe demonstrou fé em Deus escolhendo o território mais desafiador, em vez do mais fácil.
Uma vez mais, Calebe estava liderando pelo exemplo. No processo, ele viveu uma lição objetiva. Na realidade, ele estava dizendo: “Se Deus pode usar um dos homens mais idosos para expulsar os gigantes, o restante de vocês não precisa ter medo. 

Deus pode dar a vitória, e a dará.”



Passando adiante o legado



Em algumas culturas, a velhice é altamente respeitada, e os mais idosos estão bem integrados à sociedade sendo procurados em busca de conselho e sabedoria. Outras culturas consideram que os cidadãos idosos não mais são produtivos e, portanto, são ignorados e marginalizados. Esta última visão parece estar crescendo no mundo. Calebe deu um maravilhoso exemplo do valor positivo da velhice.

Calebe evitou os extremos normalmente associados aos anos dourados. Ele não se permitiu ser intimidado pelos outros por causa de seus anos. Simplesmente não desistiu da vida ao se aposentar. Não usou a idade como desculpa para não se envolver com sua comunidade. Nem se agarrou a sua posição nem considerou todas as tentativas dos mais jovens de liderar como ameaças pessoais.
Tem sido declarado que Deus não tem netos. Se Deus for considerado apenas o Deus de meus pais, Ele não terá nada que ver comigo, pessoalmente. Calebe sabia que cada geração deve ter sua própria experiência com Deus. Os israelitas, coletiva e individualmente, não podiam viver os milagres do Egito, nem mesmo a experiência de seus pais no deserto. Calebe considerou seu dever criar um ambiente para que a geração mais jovem desse os primeiros passos de fé.  O povo de Judá estava tomando posse da terra. As tribos de Judá e Simeão cooperaram e trabalharam juntas em fé a fim de fazer uso das promessas de Deus. Mas, para atacar a cidade fortificada de Quiriate-Sefer (v. 12), eles enfrentaram um desafio tremendo. Pela arqueologia, conhecemos a estrutura frequentemente elaborada dos sistemas de fortificação da Idade de Bronze Posterior na Palestina. Porém, em vez de olhar para os muros, Calebe considerou esse desafio uma oportunidade para crescimento. Aqui, alguém podia reivindicar as promessas de Deus e ter a vitória. Embora pareça estranho para nós, Calebe ofereceu um incentivo maravilhoso. Quem conquistasse a cidade se tornaria seu genro. Otniel, sobrinho de Calebe (Jz 1:13), assumiu o desafio e Deus lhe deu a vitória. Pelo incentivo de Calebe, nasceu um novo herói. O investimento de Calebe pagou ricos dividendos nos anos posteriores. Deus usaria esse jovem como primeiro juiz e libertador de Israel (Jz 3:7-11).
Conforme você amadureceu, suas atitudes mudaram? O que você aprendeu simplesmente por ter mais anos de experiência? Como você pode evitar que os anos simplesmente fortaleçam ainda mais profundamente seus hábitos e atitudes errados?



Doando liberalmente



A herança era muito importante para os israelitas. A posse de terra que pudesse ser deixada para os herdeiros era considerada uma forma de assegurar que seu legado não se extinguiria. De fato, isso era tão importante que foram dadas leis detalhadas para garantir um herdeiro no caso de um homem morrer sem filhos, de forma que alguém tomasse o nome do falecido e continuasse seu legado (veja as leis do levirato em Dt 25:5-10).



Na idade de Calebe, ele deveria pensar seriamente em sua própria herança. Os antigos registros genealógicos mostram que Calebe teve filhos. Ele deveria se esforçar para lhes deixar a maior herança possível. Embora Acsa fosse sua filha, qualquer porção de terra que ela recebesse deixaria efetivamente de pertencer à família imediata de Calebe e se tornaria parte da propriedade de seu marido. Não sabemos exatamente o que motivou o pedido de Acsa por mais terra, mas sabemos que a recusa a seu pedido teria sido aceitável e em conformidade com as normas sociais de proteger a própria herança.

O surpreendente é que Calebe não só lhe deu o campo, mas também deu as fontes de água. E não só uma fonte de água mas tanto as fontes superiores como as inferiores.  A generosidade é benéfica em ambos os sentidos. Provérbios 11:25 afirma que “o generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá” (NVI). Quando não estamos prontos para dar liberalmente, talvez seja sinal de que ainda não recebemos.
8. Que implicações tem essa história para nossa vida espiritual, por exemplo, na área do perdão? Leia Mateus 6:15 e 18:21-35.
Só podemos dar o que temos. Se não podemos perdoar, é sinal certo de que não reivindicamos o perdão de Deus para nós mesmos. Calebe havia recebido as bênçãos de Deus e estava feliz em partilhá-las. Ele mostrou generosidade além das normas sociais de seu tempo.



Quão generoso é você com o que tem? Você acha que quanto mais tem, mais disposto está para partilhar com os outros, ou tende a acumular? Como você pode estar mais disposto a dar de si mesmo para o bem dos outros?




CONCLUSÃO DA HISTORIA DE CALEB



A fé que Calebe tinha era agora precisamente o que fora quando seu testemunho havia contradito o mau relato dos espias. Acreditara na promessa de Deus de que Ele poria Seu povo na posse de Canaã, e nisto seguira inteiramente ao Senhor. Suportara juntamente com Seu povo a longa peregrinação no deserto, participando assim dos desapontamentos e trabalhos dos culpados; contudo, não apresentou queixa contra isso, mas exaltou a misericórdia de Deus que o preservara em vida no deserto, quando seus irmãos foram eliminados. Entre todas as dificuldades, perigos e pragas, nas vagueações pelo deserto, e durante os anos de guerra desde que entraram em Canaã, o Senhor o preservara; e agora, passados os oitenta anos, seu vigor não se encontrava abatido. Ele não pedia para si uma terra já conquistada, mas o lugar que, mais do que todos, os outros espias haviam julgado impossível subjugar. Com a ajuda de Deus, ele arrancaria essa fortaleza daqueles mesmos gigantes cujo poder fizera abalar a fé dos israelitas. Não foram o desejo de honras nem o engrandecimento próprio que determinaram o pedido de Calebe. O bravo e velho guerreiro estava desejoso de dar ao povo um exemplo que honrasse a Deus e incentivasse as tribos a subjugar completamente a terra que seus pais haviam imaginado ser invencível” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 512, 513).


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